A relatividade das questões de Transparência
A imagem do Auditor Independente vem sendo abalada nos últimos 15 anos por conta de situações que colocam em dúvida a efetividade dos exames realizados pelos profissionais da área de auditoria independente.
Várias ações foram realizadas, causando sensíveis impactos na forma de elaboração dos trabalhos de auditoria, bem como na busca de alternativas para tornar a linguagem técnica contida no Parecer dos Auditores Independentes mais facilmente entendível pelos usuários desse tipo de informação.
Sem dúvida alguma é importante frisar a importância que há na apresentação de demonstrações contábeis certificadas quanto sua forma de elaboração e apresentação por um profissional qualificado e com fé pública. Os relatórios são mais completos e visam atender a todos os possíveis usuários das informações sobre a Entidade que apresenta suas contas, expressadas pelo Balanço Patrimonial e as respectivas Demonstrações do Resultado, da Mutação do Patrimônio Líquido, dos Fluxos de Caixa e, no Brasil às companhias abertas, do Valor Adicionado. Além das notas explicativas essenciais para a compreensão sobre a forma adotada na avaliação de ativos e passivos, detalhes de operações e outras informações essenciais ao perfeito entendimento desse conjunto de dados.
Há sempre uma atenção voltada para que essas demonstrações, apresentadas nesse conjunto, contenham a quantidade justa de informações. Não devem ser excessivas para não entediar o leitor, nem deixarem margem a dúvidas pela falta de informações.
As questões reclamadas pela maioria dos usuários dessas informações, entretanto, ocorre somente quando ocorre algum fato depreciativo ao investimento feito pelo usuário (normalmente aqueles acionistas que estão fora da gestão da Entidade).
A impressão que dá é que nenhum desses usuários faz o devido acompanhamento durante a formação de ativos de risco, desde que estejam recebendo seus dividendos, normalmente expressivos, anualmente ou que o valor patrimonial de suas ações garanta um retorno apreciável nas negociações realizadas.
Acredito, portanto, que o problema não está, de fato, na forma de elaboração e apresentação dos relatórios, de uma forma geral. Ele reside na facilidade com que algumas operações de risco são realizadas, apresentando ganhos irreais (ou imorais) desde sua formação. Há uma certa conveniência tácita entre os gestores, investidores e, por mais incrível que possa parecer, com as entidades reguladoras de mercado (que deveriam agir rapidamente exigindo maior transparência dos fatos, até para alertar o mercado quanto ao risco envolvido nessas operações).
O IFAC delegou ao IAASB (Comitê Internacional de Normas de Auditoria e Asseguração) uma revisão do parecer dos auditores independentes.
A notícia divulgando sobre esse Novo parecer de auditoria informa que será exigido dos auditores passem a inserir em seus pareceres opinião sobre “controles internos, continuidade e julgamento”.
Na realidade essas “novidades” já fazem parte dos trabalhos normais dos auditores. A diferença, aparentemente, é que o auditor passe a documentar esses trabalhos com maior detalhe para inseri-los no corpo de seu relatório. Muitos fatos, porém, podem ser extremamente delicados para serem apresentados, de forma resumida, situações complexas que ocorrem em cada Entidade. Nenhuma é igual a outra, ainda que estejam num mesmo segmento de negócio. Se assim fosse seria muito fácil sabermos em que atividade o investidor poderá ter maior retorno ou menor risco…
Os atuais relatórios de auditoria que tem uma redação “moderna” para apresentar as mesmas informações que sempre pautaram os trabalhos realizados por essa classe de Contadores Públicos Certificados não são suficientes para dar solução a essa questão.
Nossa recomendação é que os investidores passem a delegar a leitura dos relatórios a outros especialistas que possam, com maior propriedade, dar as devidas interpretações aos fatos relatados, inclusive avaliando o nível de risco que esse investidor, especificamente, está disposto a correr.
Outra impressão que me passa essas tentativas de mudança de redação e revelação do que foi detectado nesse possível aumento de escopo de trabalho (que exigirá, provavelmente, o uso de vários especialistas em áreas diversas do conhecimento), sirva apenas para justificar as decisões de governos que para resolver os problemas de má gestão de entidades financeiras decidiram buscar essas perdas junto aos seus cidadãos. Quase sempre aqueles que não têm capacidade para fazer esse tipo de investimento.
Certamente a complexidade e diversidade de interesses sobre esse tema devem promover um amplo debate entre todos os atores envolvidos.
Que tenhamos, enfim, Transparência. Nem maior nem menor; simplesmente TRANSPARÊNCIA.